O bem e o mal para Santo Agostinho

17/02/2013 13:41

 

O significado do bem e do mal para Santo Agostinho...

 

 

    O Bem e o Mal sempre foram questões que preocuparam a humanidade. Seja através da religião, da filosofia, e da arte, tais temas foram sempre abordados pelos homens. A justificativa dessa coloca na reflexão de uma existência de significado e sabedoria em tempos anteriores à modernidade. Para esta, sua existência seria o desenrolar para o progresso e libertação do homem, desclassificando tudo o que existia antes como perda de tempo e inútil, mas estabelece seus valores essencialmente nas virtudes de justiça, fortaleza, perseverança e temperança, de matriz agostiniana.  A questão do bem e do mal está ligada à origem da vida e da morte. O mal é a morte, que é o menos ser, a impossibilidade da vida.      Agostinho entende que a vida é boa. Bom é tudo o que existe e reproduz sua existência. Inicialmente, o Bem é o que permite a existência, aquilo que é. Ora o grande entrave disso é a existência que cessa, a morte. Atrelando assim que viver é bom, e que o Mal se origina da morte, Agostinho abrange sua compreensão para o que é anterior, a morte ou a vida.  Nesse raciocínio, entende-se que a vida é primeira, a morte segunda. Ora tudo que vive deve morrer, porém, como a vida é primeiro que a morte, que é a origem do Mal, deve existir a vida antes da morte. Daí o entendimento da existência de algo que não morre, porque funda a vida, mesmo que depois surja o nada. A fonte incriada. Encontrando em Deus as características de Criador e de Ser, Agostinho funda seu conceito de Bem atrelado à vida enquanto existência fecunda e criativa. Realizando uma existência dos seres vivos em Deus, a percepção é de criaturas. Daí a característica de Criador. Porém, não só os seres vivos são criaturas, como também são fadados à morte. São criaturas, e terminam, cessam sua existência. Daí sua separação do criador. E a segunda característica de Deus, ele é. O Ser é apenas em Deus, o ser perfeito, a forma perfeita. As criaturas não são, e daí morrem. Embora estejam vivas, se dirigem para a morte, porque estão separadas do Criador, que é o Ser.

        A percepção da matéria como algo perecível não se liga imediatamente a maldade. A matéria não é má em si mesma. Até possui certa harmonia e beleza. O problema posto é que ela é insuficiente. Como parte da criação de Deus, a matéria está apartada do Ser, e daí sua inevitável destruição, em direção ao nada. Porque tudo o que é, é em certo sentido bom, enquanto fruto do Criador.

        A perversão, como Agostinho ressalta aos “homens do nada” está na dependência desses frutos do Criador, ou os bens menores, em detrimento do próprio Ser, o Sumo Bem. Mais que a dependência é o querer e o gozar a matéria criada. O Mal é a morte, enquanto querer a morte, ou seja, gozar da criação, inevitável sina das criaturas, separadas de seu Criador, o único que pode Ser.

        Ao associar o Mal e a morte, Agostinho associa o Bem e a vida. Abre espaço para a indagação sobre a eternidade das criaturas, se for possível a participação no Ser. Ao afirmar que de Deus a morte não procede, mas ela é resultado das escolhas das criaturas, a questão da eternidade das criaturas quando obedientes ao Criador, que é Ser, abre espaço para o entendimento da morte como afastamento, também eterno, do Ser. Deus cria, e uma vez criado é bom, e então é vida. Ora o mal não procede de Deus, mas do querer o nada.

        Deus é vida, ou melhor é  a Vida. A própria essência, a propriedade que define o ser, é em si Deus, ao mesmo que tempo que a essência de todos os outros seres está presente em Deus. E o afastamento de Deus é o afastamento da vida. Morrer é abraçar o mal, que se afasta da vida em direção ao nada. Mesmo a matéria inanimada tende ao mal, pois pode ser destruída e utilizada para fins de destruição, ao mesmo tempo em que o ser com alma, que abdica deste compartilhamento essencial com Deus para prender-se ao gozo material voluntariamente adere ao nada.

        É justamente essa a definição do Bem. É o Ser, fundamento e requisito da Vida. O Bem é a Vida enquanto possibilidade de Ser. Daí compreendemos como Agostinho estabelece a relação entre Bem e Mal. O Mal é apenas a recusa do Ser, enquanto Vida, e a reposição da matéria no lugar de Deus. Não que a matéria seja objetivamente má, mas ela é criação e não a essência da Vida, o Criador. O Bem é, portanto, a essência de todo Ser, a Vida de toda criatura.